quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

"A meio do tempo"

     Agora que já passou quase um mês vejo sem dúvida as coisas de outra forma...
      Estou a gostar muito da experiência quer profissional, quer pessoal.
      Do ponto de vista profissional, aquilo que faço é supervisionar o trabalho dos enfermeiros, complementá-los quando assim é necessário, dar formação e supervisionar sensibilizações realizadas pelos agentes sanitários à população. Não é um trabalho tão prático como aquele que vinha à espera, mas estou a dar conta das necessidades que existem...
Quando pela primeira vez entrei na sala de pensos e aquilo que havia eram ferros (felizmente esterilizados), compressas, soro fisiológico e violeta de genciana... nada mais, achei que até estava a ver mal... Betadine apenas para as emergências... suturar com anestesia... isso é coisa de finos... e a pele calejada de tanto caminharem a pé, torna tudo muito mais complicado... :/
Numa só consulta são abordadas as 3 áreas... planeamento familiar, saúde infantil e saúde materna... é aproveitada a ocasião, não vá a jovem mãe nunca mais lá por os pés...
Falar de alimentação equilibrada e variada não é facil... o pouco a que têm acesso é o tudo para eles, variar está fora de questão...
     Quanto à experiência pessoal... apesar de ser um país de África, dizem ser um mundo à parte... bastante seguro, em que existe uma paz e as pessoas se cumprimentam pelas ruas como se há anos se conhecessem.
O primeiro impacte com as casas em madeira no meio do mato, as estradas em que se juntam crianças, porcos, cães, galinhas viaturas mal estacionadas... a confusão que é a condução deles em que o que vale é a buzinadela que significa "toca a afastar"... a música que se ouve por todos os lados... é sem dúvida um mundo à parte...
Os autocarros chamados de Hiaces (carrinhas de 9 lugares em que à mistura, só quando completa, partem pessoas, cargas, animais e tudo e mais alguma coisa...) ou os táxis que transportam no seu interior (ou exterior se for possível) sofás por exemplo, ou ainda os motoqueiros... que, quando têm de transportar um grupo, seguem todos em fila indiana como se de uma marcha se tratasse...
      É o vale tudo numa cidade em que no mercado se vende peixe que já levou com mil e uma moscas em cima, frutas e especiarias de cores vivas que chamam a atenção e água deixam na boca, o fardo (feira de roupas) onde se negoceia roupa amontoada, a poucos cêntimos, vinda de doações em Portugal... onde nas ruas brincam as crianças descalças, de roupas rotas, mas felizes, bem mais felizes que aquelas que até agora conhecia, que tudo têm e de tudo se queixam.
Nesta terra como eles dizem "vocês têm o relógio, mas somos nós quem tem o tempo" e tudo segue "levi- levi" que é como quem diz devagar devagarinho....
Em que um pedido num café demora séculos e nunca vem completo... sempre falta algo ou vem trocado... mas que já me faz rir e sorrir
      O que é certo é que estou a adorar e cada vez mais penso que somos nós quem complica a vida, quem tudo tem e tudo quer... buscando a utópica perfeição!

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